segunda-feira, 19 de agosto de 2013

o velho e o novo

Ahh, o desenho das nuvens no céu, naquela hora exata em que o céu ensaia ser mar. É que antes de qualquer escura profundeza ele passa todas as cores, as cores, de todos os cheiros, os cheiros a flutuar-nos a nos ser nuvens também. 

Era o céu que a menina flutuava a todo dia, com a nostalgia da hora em que o sol quer ser partida, a hora em que a visita a seu avô estava chegando ao fim. E eram muitas despedidas para aquele ainda pequeno coração, que só entendia que tudo era vida, que todos os dias para completa-la visitava seu avô, aquele velho senhor em que já se via desgastar, e dependente das doses diárias da neta só a via nas bagunças do seu quarto, ocupando sua rede, roubando-lhe as moedas e rindo de fotografias antigas quase irreconhecíveis do avô.

O que ela não sabia, é que despedida maior chegaria, e seus dias contariam dias com ele, que também organizava a sua hora de partir.

Eis uma das maiores ironias da vida. O seu próprio ciclo natural. E de um lado, o velho tempo cercado  de juízo, bença, "não beba", "não fume", ame-se e siga seu caminho, caminha lado a lado com o novo que as coisas e as gentes teriam a apresentar para aquela menina a todo momento. E ela, era só uma criança desses novos mundos que surgiam, apegada sempre no envelhecer do tempo de seu avô. Gostavam dos mesmos filmes, das mesmas músicas, e da mesma sobremesa.

Então, como ficariam aqueles dois corações, um de chegada, outro já de partida... Foi como ficou o céu no momento da grande separação. Ela, que ficara, insistia às nuvens para sair dalí, não conseguiu, não conseguiria olha-las com tanto esplendor, e por muito tempo perdeu o gosto de tantas brincadeiras, antecipando por dias e dias o final do sol. E foi assim, que a menina conhecera o fim, o primeiro de sua vida ainda. Entre o velho e o novo de tanto ser.

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