quarta-feira, 27 de março de 2013

eu

Eu me mordo, me roo, e choro
Mas não deixo você saber disso
E aqui
Eu me enrrolo, atropelo, não nego
Mas você não há nem de desconfiar
O que eu tenho guardado pra te dar
Um vulcão do tamanho da explosão
Da explosão que meu corpo abriga
Que abriga e que vai culminar
Sei lá...
Só de te ver caminhar
Só de te ver conversar
Só de te ver sorrir
Com algum alguém, que não seja por mim
Largue

Dissolver-se e(em) amor


Quando teu peso recai sobre mim
E minha pele na tua
Absorve, alta temperatura
No tempo em que o desejo
Se dissolve no amor
Seremos então, alí, alguém
Que nasce e morre de nós
N'alguma eternidade indefinida
E sem limitações,
Acima de qualquer estrela
Onde chegamos
Alguém que percorre em outros planetas
Peles, nossos poros
Quem somos e nem somos
Nós, um
Por fim,
Quando em nossos risos
Teu corpo termina no meu
Ainda esperando pelo instante
Em que em nenhum instante houvesse fim
Nos desejaríamos
Ardorosamente
Vagarosamente
Ansiosamente
Pelo tempo em que viu-se dissolver, no amor.

terça-feira, 26 de março de 2013

50
Fui andando...
Meus passos não eram para chegar porque não havia 
chegada
Nem desejos de ficar parado no meio do caminho.
Fui andando...

82
{...] E aquele
Que não morou nunca em seus próprios abismos
Nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas
Não foi marcado. Não será marcado. Nunca será exposto
Às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema.

146
Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma
e que você não pode vender no mercado
como, por exemplo, o coração verde
dos pássaros,
serve para poesia

...
Tudo aquilo que a nossa
civilização rejeita,pisa e mija em cima,
serve para poesia


Manoel de Barros

terça-feira, 19 de março de 2013

da caverna

Quem diz que não gosta de nada
Na verdade não sabe de nada
Pra dizer que gosta

Não sabe sabores
Não sabe de amores
Não sabe voar

E se diz não ter medo do futuro
Mas nega tudo por se sentir seguro
Não sabe que dar passos em torno de si
É não saber andar.