quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

metaforizando-o-se


Tem gente que é como a meia luz de um quarto ventilado gerada num abajur de canto de cama; outras são como o cheiro do sabão em pó na roupa recentemente lavada; ou a sensação de se chegar ao caroço de uma manga suculenta comida num final de tarde chuvosa; ou como a dor muscular na barriga e bochecha depois de exageradas gargalhadas. Esse é o que há de mais bonito no fato de passarmos por tanta gente durante nossas histórias, é que algumas delas são, para além de si, sentimentos e sentidos quase que indenominados, uma espécie de aconchego sem que se precise ao menos do toque. Não sei se seria o astral, mas são as pessoas propriamente ditas, da forma que só quem sente as vê.
E quando por algum acaso alguém vai embora, mesmo longe, as vezes, e talvez, elas fiquem, assim, metaforizando-se através daquelas mesmas sensações que traziam, são eternas, como bonitas, e ainda as vezes somente resgatadas quando dada a ausência, e de repente uma textura macia de lençol venha lembrar, ou que passe tempo até que as oitenta batidas por segundo da asa de um beija-flor faça surgir o que alguém de partida já foi.
Seja talvez a melhor das maneiras de se estar com alguém a maneira pela qual nem você há de perceber. Ou a mais doce de se lembrar, inocente também, cada um foi em alguém um alguém só. E no final da mais fantasiosa percepção, nunca haverá de ser a mesma chuva, a mesma manga, a mesma textura de lençol.

2 comentários:

  1. As palavras finais me levam a uma reflexão recente sobre grandes encontros que vivemos com coisas, seres e pessoas que parecem por si só serem suficientes em plenitude.(levando em consideração o conceito "eudaimonico" de Aristoteles. Mas os mesmos encontros vividos em outros tempos não mais nos remetem ao mesmo estado de espirito ante vivido, pois somos corpos em constante mudança, e o resultado do novo corpo com a mesma causa já não será a mesma consequencia.
    Acho justo sempre considerar e afirmar quão satisfeito fico quando posso ler o que escreves.
    Micael Barros

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