domingo, 28 de abril de 2013

na varanda


Tenho a certeza que aqui é o meu lugar. É que quando passei a mão pelos teus cabelos no final daquela noite, eu não tinha a intenção de bagunçar a casa, só não queria sair dela também, só queria que um pouco da ventania doce, do cheirinho de chuva, da paz de um por do sol que lá encontrava (como em nenhum outro lugar) pudesse ser um pouco meu, continuar sendo um pouco meu. E o meu medo de perder foi grande, porque foi no momento em que eu mais quis ganhar, é nessas horas que colocar-se no lugar da espera torna-se um tanto doloroso também.

Mas um dia, não sei quantas eternidades depois, pisei devagarzinho nos degraus de tua subida, pra tomar um vinho na porta de entrada, conversar como nos velhos tempos quase/ sempre/ nunca perdidos, alí, onde batia o mesmo vento e o mesmo cheirinho de chuva, numa visita talvez até inesperada, tentei te dizer que o que eu queria era ficar, tentei mostrar como os teus braços servem nos meus ombros, a minha altura na tua, a minha dança na musica dos teus dedos, tentei ficar.

E perdi a noção do tempo, esqueci o caminho de volta dos caminhos que já havia percorrido, ainda bem que esqueci.
Eu não tinha a intenção de bagunçar a casa, apesar do espaço que precisei ocupar, apesar das limitações que passamos a lidar, e penso que talvez tenha ficado tudo uma loucura, mas ficamos bem assim, não? É que mais algumas eternidades depois, eu só vim constatar as minhas primeiras linhas de final feliz... A noite veio sendo o descanso do sol, e eu fiquei, a ponte vem sendo a distancia de quem estar só, agora, a sós.










sexta-feira, 19 de abril de 2013

Mas eu também sei ser careta
De perto, ninguém é normal
Às vezes, segue em linha reta
A vida, que é "meu bem, meu mal"
No mais, as "ramblas" do planeta
"Orchta de chufa, si us plau"
No mais, as "ramblas" do planeta
"Orchta de chufa, si us...
Ê, ê, ê, ê,
Deusa de assombrosas tetas
Gotas de leite com na minha cara
Chuva do mesmo sobre os caretas...

Caetano Veloso



terça-feira, 9 de abril de 2013

As vezes chove, a gente nada, as vezes anoitece, a gente brilha. E qualquer coisa qualquer lugar é desculpa para encontrar-se-si, catar todas as gotas, todos os grãos.
E tem espaço para brilhar.

Já viveu hoje?

Alguns recados deveriam ser pendurados na porta das maternidades, e até mesmo nos leitos onde os partos ocorrem, como:

Amamentação recomendável até o primeiro ano de vida do bebê.


O melhor sol para se tomar é o das sete às oito horas da manhã, além de ser o melhor horário para se acordar e aproveitar o dia.


Aproveitem seus dias porque ainda não descobrimos se cada sol significa um dia a mais, ou a menos. 


Torne-se um ganho para o mundo.


Mas eu também diria, ganha-se vida não apenas no primeiro grito de sufoco ao sair do lugarzinho estável e quente de nossas mães. Ganhe-se vida no sangrar de cada arranhão, naquele momento que você já pensou que não deveria ter existido, naquela pessoa que em algum momento você já quis nunca ter cruzado, nas vezes em que chegou atrasado no trabalho dormindo mais cinco minutinhos só pelo fato de ter tido uma boa noite do tipo que você não queria que acabasse, nas noites que você viveu e que você não queria que tivesse acabado, e em todas as vezes que parou para ver o pôr-do-sol, e o sol morrer no mar; se nunca tiver visto isso, aí sim você esteve perdendo vida por aí. Mas ganha-se vida, e ganhar é lucro, mesmo quando o ganho seja subtração, da perda de um ou uns corações por aí; nas vezes em que roubaram o seu, e até mesmo se ainda não tiverem devolvido. 


Ganha-se vida nas escolhas, mesmo que cada escolha seja paralelamente a perda de outra, e lucra-se com os arrependimentos também, e mais ainda com os não-arrependimentos, e com os limões que já suportamos, e as limonadas que já fizemos, porque lucramos imensamente e talvez mais do que muitas coisas, com a ressaca, com os amigos. De modo que seja impossível excluir lágrimas e risos de nossas próprias vidas, vamos somarmo-nos ao mundo de modo a ser-vivo.